sexta-feira, 16 de março de 2007

Menininha da Praia

Chegava o verão, trazendo os dias quentes e outros mundos à minha pequena cidade à beira mar.Vinha e trazia-te a ti, vinhas de mãos dadas com o sol com um novo sorriso…com uma nova melodia para os meus dias. As escuras cabanas junto ao mar ganhavam cor, vida e cheiros…o verão trazia a vida!
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Todos os dias, corria aquela praia, sabia que te ia encontrar nos primeiros raios de sol. Caminhavas descalça na areia quente, o doce vento que vêm do mar balança os teus cabelos loiros, que tantas vezes confundia com raios de Sol. Colhias uma flor e colocava-la no teu velho chapéu de palha. Vestida de paz, enchias o meu dia de esperanças, os rancores e desavenças dum passado próximo desaparecia ao ver esse sorriso que te acompanha ao longo do teu caminho.
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Cantavas todos os dias a mesma música, a mesma música que tua mãe te ensinara e tantas vezes ouviste ao adormecer, ou num terno abraço embalado no baloiço duma cadeira ao pôr-do-sol. A tua voz ecoava entre as ondas do mar que tanto admiravas, teu mais fiel companheiro, dono dos teus segredos.
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E ficava ali, vendo-te dançar na espuma branca das ondas, envolvido em mil sentimentos e pensamentos que me levavam à tua simples e frágil imagem.
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E aquele assobio do barco de pesca alertava que tinhas de regressar ao teu velho castelo, onde eras princesa amada e guarda como jóia preciosa, linda e brilhante, a razão dos dias. Partia então, o dia corria e em mim fervilhava ansiosamente o novo amanhã onde irei aquela praia e te verei chegar…mas os atalhos do destino, podem sempre traçar um diferente amanhã.
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Seguiam os dias, e eu seguia todos os teus passos sem uma palavra. Sabia que me vias, sentado na mesma areia onde passavas…fingindo olhar o mar. Com um sorriso tímido me cumprimentavas e um pequeno aceno bastava para te retribuir. Eras tão doce, tão perfeita, tão frágil que tinha medo que o meu jeito bruto te assustasse.
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Sentia-me indefeso, como se a minha bravura e coragem de homem desaparecessem e ficasse despido do que sou. O teu olhar me desarmava. Mas aquela manhã foi diferente, o sol entrou pela minha janela acordando-me apressadamente, como me chamasse para algo importante. Corri pela calçada de pedra que me levava a ti. Ali estava a praia onde te contemplava, e lá estavas tu caminhando junto ao mar. Tentei disfarçar a minha pressa lançando-me embaraçosamente sobre a areia, tomando o meu lugar de sempre. Envergonhado e de cabeça baixa olhei discretamente para ti.
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Estavas tão sorridente, como se percebesses o meu nervosismo. Num gesto delicado, repleto do teu silêncio, ergues a mão e retiras do teu chapéu a flor que colheras e diriges-te a mim. Fiquei imóvel, gelado tentando não demonstrar minha fraqueza…sorris e entregas-me a flor branca, e segues teu caminho. Um sorriso estranho nasce em mim, ganho uma força e sai correndo para guardar o meu tesouro…
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Outro dia amanhece e esperava por ti, mas não te vi chegar. Uma angústia envolve o meu peito, o mar está calmo demais, o vento não sopra e o sol brilha triste por trás de nuvens que se passei no céu azul que sempre complemento os teus olhos. O velho barco de pesca passa mudo lá ao longe. Corri ao teu velho castelo. A porta fechada, não havia música, não existia brilho.
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Na cidade quase vazia, só o vento movia os dias…o verão partira mais cedo…as noites frias caminhavam no tempo em direcção aquele lugar. O verão partira e levara-te com ele sem me avisar. Suspiro desolado, mais um momento em que não tive coragem de te dizer com um sorriso apenas o quão importante és. Tão cedo não voltarei aquela praia ao amanhecer, ficarei junto à flor que me deste e guardo como um pequeno tesouro junto à cabeceira onde adormeço recordando-me de ti…a menininha da praia!

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